Há pouco menos de mil anos vivíamos o auge da civilização árabe-islâmica e o mundo conheceu grandes avanços nas artes, nas ciências e no conhecimento em geral. Bagdá era o grande centro intelectual do planeta. “O mundo falava árabe”, se costuma dizer. E como falava! Poetas, cientistas, contadores de histórias espalhavam seu conhecimento e sua cultura aos quatro cantos. Por mais flagelos que essa civilização tenha sofrido, principalmente nos dois últimos séculos, não há o que apague tanto deslumbramento, tanto conhecimento. Nessa 17ª Mostra Mundo Árabe de Cinema podemos dizer que o “mundo vê em árabe”. E como vê!
Diversidade de propostas em diferentes geografias, ousadias de linguagem, processos criativos inovadores, definitivamente aqui não estamos num lugar comum. É o lugar da expressão de um povo várias vezes milenar. No filme libanês “Caixa de Memórias” mergulhamos nas memórias sensíveis de uma família revividas com recursos de multimídia em puro deleite gráfico visual; no marroquino “Jahilya” revelam-se histórias poderosas, e ao mesmo tempo irreverentes, numa linguagem narrativa desafiadora de nossos sentidos; e no palestino “O Salão de Huda”, a história ágil e seus personagens se entrechocando em estado de forte tensão nos captura de imediato. São alguns exemplos da força e da inventividade desse cinema e dessa cultura, que está aqui para ser vista, revista e admirada.
Há um nome em árabe, Abdaljamil, que significa servo da beleza. Servo no sentido de alguém tão imerso na vivência e na busca do belo (em todos os seus sentidos) que se torna ao mesmo tempo, servo e senhor de si. Fica aqui o convite para sermos, nessas horas mágicas do cinema, todos “abdaljamils”. Bem-vindos à 17ª Mostra Mundo Árabe de Cinema.